Literatura financeira

Cada dia que passa descubro uma nova categoria para classificação de textos literários. Aliás, gênero literário é o que não falta nesse mundo. Realistas, naturalistas, fantásticos, maravilhosos, fantásticos maravilhosos, sci-fi, cyberpunk, existencialista, sci-fi cyberpunk, e agora descobri também que existe a literatura financeira. E não, não é a bibliografia de uma disciplina aleatória de economia.

Vale como referência o ótimo artigo da Dissent Magazine, que traça todo o histórico da coisa, começando lá atrás com “O dinheiro” do Zola, passando por obras de Dos Passos e chegando nos dias atuais com uma pá de gente tentando NÃO APENAS falar sobre finanças em literatura mas realmente EXPLORAR a linguagem crítpica financeira como instrumento literário.

A questão levantada é ótima: em um mundo cada vez mais especializado e fragmentado, as formas de linguagem também se especializam. E porque não fazer literatura também com essa linguagem especializada? E quais são as suas possibilidades?

Por ora, não sei até que ponto tem gente em bolsas de valores lendo esse tipo de literatura, mas explorar a poesia da críptica capitalista em tempos de austeridade econômica me parece pertinente. Autores como John Lancaster e seu Capital, Mohsin Hamid e seu How to get filthy rich in rising Asia e, o que mais me deixou salivando, In the light of what we know de Zia Haider Rahman tem explorado essas possibilidades e tenho visto pouca gente falar disso.

Não sei se em breve teremos também literaturas explorando a linguagem críptica industrial, médica, ou farmacológica, mas bem que poderia ser bacana. A questão é que agora o momento é um momento em que a suposta “complexidade” do mundo financeiro faz com que apenas uma a elite econômica de auto-intitulados “especialistas” seja permitido pensar o que iremos e podemos fazer com o dinheiro do mundo e seus mercados. E esse mundo de especialistas começa a ser cutucado pela literatura.

E fica a pergunta: alguém está fazendo literatura financeira no Brasil? Jogando com linguagens crítpicas de especialistas? Quem? Quem souber ou tiver o paradeiro, quero nomes.